terça-feira, 14 de maio de 2013

Quase 3 mil foram resgatados do trabalho escravo em 2012


Autoridades veem regularidade na quantidade de casos de trabalho escravo no Brasil, no período dos últimos cinco anos, apesar de leve aumento em comparação com o ano de 2011.
A reportagem é de Guilherme Zocchio e publicada pela agência Repórter Brasil, 13-05-2013.
Números divulgados nesta segunda-feira (13) pela Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), órgão do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), indicam que no Brasil 2.849 trabalhadores foram resgatados de condições análogas às de escravo no ano de 2012. Os resgates decorreram de 255 ações de fiscalização, ao todo, realizadas pelo MTE. O total representa aumento de quase 15% na quantidade de casos de escravidão contemporânea no ano de 2011, quando houve o flagrante de 2.491vítimas. O ano passado também superou a marca de 2010, que contabilizou 2.628 pessoas resgatadas.
“O importante é observar o número de pessoas resgatadas em relação à quantidade de fiscalizações”, considera o coordenador do Projeto de Combate ao Trabalho Escravo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil,Luís Machado. “É possível perceber uma mudança principalmente no meio rural, onde o foco das situações de trabalho escravo não mais está associado à restrição de liberdade, mas aparece nas condições degradantes ou na jornada exaustiva de serviço”, explica. O representante da OIT atribui essa alteração no cenário aos quase 18 anos de combate à escravidão. As ações de inspeção sobre a escravidão contemporânea no país começaram em 1995.
Libertação recorde
A Detrae também dá destaque, no levantamento sobre o ano de 2012, à libertação de 150 trabalhadores de condições análogas às de escravo durante uma fiscalização na região de Marabá, no Pará. Essa foi a ação fiscal em que mais pessoas foram resgatadas no ano passado. O Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo encontrou não apenas pessoas submetidas à escravidão na produção de carvão vegetal, como também crimes ambientais e emissão de notas fiscais falsas. Na ocasião, a equipe formada por auditores fiscais do MTE, procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), relatou até ameaças de morte.
Os 150 resgatados estavam em condições degradantes, trabalhando em 185 fornos irregulares em duas carvoarias, em local isolado de difícil acesso em Goianésia do Pará, a cerca de 185km de Marabá. O caso levou a Siderúrgica do Pará (Sidepar), que, de acordo com a fiscalização, estaria interceptando a produção de carvão realizada com trabalho escravo junto das siderúrgicas Cosipar e Ibérica, a ser suspensa do Pacto Nacional Pela Erradicação do Trabalho Escravo – acordo que reúne algumas das principais empresas do país.

“125 anos da Lei Áurea e continuamos escravocratas”

125 anos após a promulgação da após a Lei Áurea, continuamos um país escravocrata. Desde 2003, mais de 26 mil pessoas foram libertadas de trabalhos forçados em todo o país.
O comentário é de Henrique Cortez, ambientalista e coordenador editorial do Portal EcoDebate, em artigo publicado pelo sítio EcoDebate, 13-05-2013.
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, o Grupo Especial de Fiscalização Móvel do retirou no ano passado 2.560 trabalhadores de condições análogas à de escravo em todo país. Ao todo foram 135 operações já computadas pela Secretaria em 2012 e que resultaram em mais de R$ 8,6 milhões em pagamentos de indenizações aos trabalhadores resgatados.
No estado do Pará foi onde houve maior numero de resgates em 22 operações, que resultaram na retirada de mais de 500 trabalhadores expostos a condição análoga a de escravo. A pecuária foi o setor onde mais houve resgates, seguida por atividades ligadas ao plantio.
E, por favor, atenção ao número de resgatados, porque no período de 1995 a 2012, o Grupo Móvel libertou 44.231 trabalhadores em 3.428 estabelecimentos. Repito: 44.231 trabalhadores em 3.428 estabelecimentos. O número é mais do que relevante e comprova a continuada presença do escravagismo entre nós.
Confira o quadro de resgate desde 1995 clicando no link.
A “lista suja” é um passo importante para erradicar a irresponsabilidade empresarial. Como consumidores/cidadãos devemos exigir que estas empresas criminosas sejam eliminadas do cenário econômico nacional. Caso contrário, os automóveis continuarão a ser abastecidos com uma triste mistura de álcool e sangue. Mas, diante a atual legislação, os escravocratas continuarão impunes, porque apenas as multas não os inibem. É imperativo que sempre sejam criminalmente responsabilizados e que estejam expostos à possibilidade real da expropriação da propriedade e/ou negócio.
E, como se isto não bastasse, mediante liminares judiciais, diversos escravocratas continuam imunes à lista suja.
Conheçam a lista suja através do site do MTE, através da qual e possível identificar as propriedades exploradoras do trabalho escravo através do nome do proprietário, estado, município, nome da propriedade, ramo de atividade.
Há quem questione ou não compreenda a preocupação de ambientalistas para com o trabalho escravo, com o argumento que não é um tema ambiental. O assunto nos interessa e preocupa porque é evidentemente socioambiental. Um verdadeiro ambientalista não aceita uma cidadania parcial ou direitos humanos pela metade.
O trabalho escravo, por outro lado, está associado às madeireiras ilegais e à grilagem de terras públicas na “amazônia sem lei”. Nas palavras do gerente do Ibama em Belém, Marcílio Monteiro – “O crime ambiental é primeiro do iceberg. Atrás vem formação de quadrilha, falsificação de documento, trabalho escravo. Em síntese: é toda uma atividade ilegal que o Ibama, junto com outros órgãos federais que estão atuando na região buscam eliminar”.
Sempre insistimos nas nossas preocupações com o mais do que conhecido consórcio amazônico da devastação: grilagem-madeireiras ilegais-queimadas-pecuária-monocultura da soja. É igualmente importante destacar o crescimento das denúncias de trabalho escravo e degradante na mesma medida da expansão da fronteira agropecuária na amazônia, principalmente porque o trabalho escravo é intensamente utilizado na primeira fase do processo – o desmatamento ilegal.
É importante reafirmar que não falamos da agricultura sustentável e responsável, nem do agronegócio em si, mas dos agrobandidos que se escondem atrás daqueles que produzem de forma correta e responsável.
Defendemos a aprovação da PEC 438 que permite a expropriação, para fins de reforma agrária, das propriedades em que for comprovado trabalho escravo. Defendemos, inclusive, que seja criado uma marco legal igualmente firme com o trabalho escravo urbano. É necessário agir para que a PEC seja votada com urgência. O trabalho escravo é um perverso “subsídio” que a todos prejudica, inclusive os produtores rurais que cumprem a lei.
A imensa maioria dos produtores rurais é social e ambientalmente responsável. Neste sentido nada tem a temer com a PEC 438, que apenas atingirá os escravocratas. Seria importante que a bancada ruralista compreendesse que obstruir o andamento da PEC 438 resulta como contrário aos interesses da maioria dos produtores rurais, apenas servindo para subsidiar a uma minoria criminosa e, aparentemente, muito poderosa.
Há ainda a necessidade de ampliar o combate ao trabalho escravo nos grandes centros urbanos, com destaque para São Paulo, no qual a mão de obra de imigrantes ilegais é escravizada para fins de produção, destacadamente em confecções. O trabalho escravo e/ou degradante nos centros urbanos é tão vergonhoso quanto o seu equivalente rural.
A exploração do trabalho escravo contamina toda a cadeia produtiva, levando às nossas casas a carne, a madeira e as roupas produzidas a partir do suor escravo. Não temos como saber, mas podemos exigir a partir da lista suja que a cadeia produtiva seja interrompida e que os frigoríficos e lojas não comprem produtos que tenham origem do trabalho degradante.
Aliás, já estamos enfrentando boicotes e restrições não alfandegárias, como a recente iniciativa de parlamentares norte-americanos em imporem restrições à importação de produtos siderúrgicos “contaminados” pelo trabalho escravo e do desmatamento ilegal. É evidente que é uma medida protecionista maquiada com a responsabilidade social, mas somos obrigados a reconhecer que os motivos realmente existem e por nossa responsabilidade.
Como cidadãos devemos pressionar o Senado para que a PEC 438 seja retirada da gaveta e colocada em votação.
O país está combatendo o trabalho escravo e os avanços foram significativos, mas ainda há muito que fazer.

Tráfico de pessoas movimenta 32 bilhões de dólares por ano

Sob o lema "Liberdade não se compra. Dignidade não se vende. Denuncie o Tráfico de Pessoas", o Ministério da Justiça e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) lançaram, na quinta-feira, 9, a Campanha Coração Azul de combate ao tráfico humano.

A reportagem foi publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 13-05-2013.

O coração azul simboliza a tristeza das vítimas desse tipo de crime e denuncia a insensibilidade daqueles que compram e vendem seres humanos. A cantora Ivete Sangalo recebeu do UNODC o título de Embaixadora Nacional da Boa Vontade para Prevenção e Combate ao Tráfico. Esse é um crime invisível, definiu. "O Coração Azul é uma forma de fazer o coração vermelho bater", disse Ivete.
"Nenhum país consegue escapar desse crime terrível que viola diretamente os mais fundamentais direitos humanos", declarou no lançamento da campanha o diretor executivo do UNODC e subsecretário geral da ONU, Yury Fedotov. Relatórios desse organismo indicam que 58% das pessoas traficadas são submetidas à exploração sexual e 36% a trabalho escravo.
Mulheres são as maiores vítimas do tráfico de pessoas. Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), elas representam 76% das vítimas desse crime, que movimenta em torno de 32 bilhões de dólares no mundo por ano.
O Brasil é tanto país de origem de mulheres traficadas como pólo de destino, responsável por 15% das pessoas "exportadas" da América Latina para a Europa.
As mulheres traficadas são, em geral, pessoas em situação de vulnerabilidade social, desempregadas, mães solteiras, com pouco estudo, que já sofreram violência, descreve a irmã Eurídes Alves de Oliveira, coordenadora da rede "Um Grito pela Vida", em entrevista à revista do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
A colega dela na Rede, irmã Gabriella Bottani, sustenta que não se pode falar em combater o tráfico de pessoas sem combater a pobreza e a desigualdade sócio-econômica presente no mundo. Tampouco dá para combater o tráfico "sem enfrentar o problema da corrupção e questionar a cultura que torna tudo mercadoria", disse.
Estatísticas apontam que uma de cada quatro vítimas do tráfico de pessoas é explorada em seu país. Os principais países de origem de pessoas traficadas encontram-se no sudeste asiático, na África Subsariana, no Leste europeu, na América Latina e no Caribe. Os países receptores "desse produto" são as regiões mais ricas do planeta: Estados Unidos, Europa Ocidental, Austrália, Japão, Oriente Médio.
Estudos da Universidade John Hopkins estimam que nos Estados Unidos e Europa vivam de 200 mil a 500 mil mulheres traficadas da América Latina. De 1996 a 2002 tinham sido detectadas 110 rotas do tráfico em território brasileiro e 131 para o exterior.
Como as rotas são dinâmicas, esse quadro certamente está desatualizado, mas o Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro continuam na liderança dos pontos de saída do país. A Polícia Federal tem registradas mais de 700 denúncias sobre sites de falsas agências de modelo que recrutavam mulheres para o tráfico internacional.

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