quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Colocando o dedo na ferida - A perigosa onda de generalizações

Logo após a proclamação do resultado final das eleições presidenciais, comentários com nítido teor de xenofobia e racismo, tomaram conta do Twitter. Alguns usuários do microblog destilaram seu ódio contra os nordestinos, incitando até mesmo o cometimento de crimes. Concordamos que tal atitude merece punição exemplar, haja vista que o direito de expressão não pode afrontar outros direitos fundamentais, como a dignidade da pessoa humana.
Muitos de nós tomamos o cuidado, ao oferecer nossa reação a este ato, em não generalizar. A grande maioria de vocês, leitores deste artigo, acredita que muitos cidadãos do Sul e Sudeste do país não pensam como a Mayara Petruso. Muitos sulistas possuem admiração e amizade por pessoas, colegas e personalidades do Nordeste, e vice-versa. Acredito que, nesse ponto, chegamos num consenso.
Contudo, parece que quando colocam o dedo em nossas feridas, abandonamos toda a razão apresentada no raciocínio acima. Os recentes fatos do mundo jurídico/político me dão essa percepção. As acusações contra os Promotores de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal; a postura do juiz acusado de trabalho escravo no Maranhão; a recente pesquisa publicada pelo IPEA sobre percepção do Poder Judiciário; os advogados descompromissados que prejudicam seus clientes são exemplos de quão perigoso ao Estado Democrático de Direito são essas generalizações.
Essa é uma citação antiga, mas deve ser sempre lembrada: “Em toda profissão, existem os bons e maus profissionais”. Isto deve permear sempre nossas falas, escritos e ações. Julgar uma instituição inteira pelo exemplo negativo de alguns de seus quadros é cair em contradição em nós mesmo. O que falei acima sobre nordestinos e sulistas não foi à toa. A credibilidade de uma instituição está, além do seu quadro funcional, na capacidade de resposta daquela em punir os profissionais que desonram suas funções. Devemos cobrar dos Conselhos de classe (jornalistas, médicos), da OAB, dos MP´s, dos TJ´s, das Defensorias Públicas, das Secretarias de Segurança a investigação e punição (àqueles comprovadamente culpados) daqueles que desonraram o múnus conferido.
Generalizar os quadros profissionais do Ministério Público de São Paulo, em virtude das ações do Promotor em face do palhaço Tiririca; do MPDF, pelas acusações de corrupção contra promotores; da OAB, em face da conduta de advogados desidiosos com seus patrocinados; do Poder Judiciário, pela ação de alguns de seus pares, é algo extremamente grave.  Devemos sim fortalecer, publicizar e louvar as atitudes de profissionais comprometidos com a defesa do Estado Democrático de Direito, com a ordem jurídica nacional e com a prevalência dos Direitos Humanos.
Outro exemplo? A pesquisa do IPEA sobre a percepção da sociedade brasileira sobre a Justiça. A nota baixa dada pela população (4,55) apenas reflete como a sociedade vê aquilo que, historicamente não cumpriu o papel ao qual se destinava. Trata-se de uma percepção geral (sem apontar causas), que, em nada, deve ferir a postura dos operadores jurídicos que tem um comprometimento com o verdadeiro sentimento de Justiça. Trabalhos como esses, para além de causar a emissão de notas (muitas vezes extremamente corporativistas), devem fazer com que as instituições reflitam sobre o verdadeiro sentido que ocupam na sociedade.
Nosso posicionamento deve ser sempre o de cobrar que essas instituições realizem um trabalho sério de investigação e punição daqueles seus membros que comprovadamente agiram de forma contrária à legislação e aos preceitos éticos e morais da profissão.
É cristalino que ninguém está livre de cometer erros. Eu mesmo já tive a infelicidade de cometer tais generalizações, mas tentei corrigir o meu equívoco. Torço para que meus nobres colegas jornalistas, professores, advogados, defensores, promotores, juízes e policiais façam o mesmo.
Portanto, antes de criticarmos a atuação da instituição A ou B, coloquemos também o dedo nas feridas das nossas entidades de classe e nossas instituições. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Façam o seguinte questionamento: Gostaria de ter meu nobre trabalho, desenvolvido com afinco, dedicação e compromisso, jogado na vala comum da generalização, junto com os maus profissionais? Bom, eu não. E você?

Um comentário:

  1. Meu caro amigo Igor, suas palavras são irretocáveis.

    Idéias e comportamentos panfletários, tendentes à generalização, servem apenas para jogar gasolina na fogueira.

    Amadurecimento é uma das chaves.

    Abraço e parabéns!

    João Macruz

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