Depois de duas sabáticas semanas pelo litoral nordestino, volto a postar no blog. E relato aqui uma experiência deste fim de ano que recomendo a todos que façam o mesmo.
Passei cerca de 36 horas na comunidade da Prainha do Canto Verde, localizada no município de Beberibe, distante 120 quilômetros de Fortaleza, no Estado do Ceará. A comunidade integra uma rede de turismo comunitário, chamada “Rede Tucum” (www.tucum.org), composta por várias outras comunidades tradicionais do litoral cearense, com o intuito de desenvolver o turismo e fortalecer a luta pelos recursos naturais para aquelas famílias, que por décadas residem naquelas terras. Tal iniciativa tem, como um dos objetivos, romper com a lógica dos grandes resorts (que proliferam pelo nosso litoral), que expulsam as pessoas de suas terras e destinam os lucros, muitas vezes, para fora do país.
Hoje, a comunidade é uma Reserva Extrativista. Ainda assim, pretensos proprietários tentam anular, na Justiça Federal do Ceará, o ato de criação da Reserva, alegando serem donos de metade da área da comunidade (que conta com 250 famílias). Tem por intenção venderem a terra para um grupo espanhol implantar um grande resort.
Cheguei na comunidade por voltas das 21 horas do dia 26 de dezembro. Já estavam à minha espera o Sr. João e a Dona Aíla, proprietários da pousada Sol e Mar. Depois de mais de 14 horas dirigindo pelas estradas, tudo o que eu mais queria era uma boa cama para descansar e dormir. O quarto, muito simples mas extremamente limpo e confortável, era o refúgio preferido naquela hora. O forte e permanente vento que sopra no litoral cearense me fez dormir um sono dos anjos, mesmo num quarto sem aparelho de ar-condicionado ou ventilador.
Os primeiros raios de sol do dia 27 do último mês do ano incidiam pelas frestas da porta do meu quarto. Nada como começar o dia como uma bela caminhada à beira-mar. As primeiras jangadas partiam rumo ao oceano em busca do sustento de cada dia.
A manhã foi dedicada a sentar na beira da praia, admirar as jangadas no mar, bater um papo com os amigos e tomar uma cervejinha gelada. Por volta do meio dia, a parte mais “radical” do dia. Entrei na pequena jangada e partirmos oceano adentro. A sensação é de andar sobre o mar. A dois quilômetros da costa, a jangada parou e um mergulho numa água quente e de um verde ofuscante foi algo obrigatório.
Depois de um peixe assado na brasa e um bom pirão feito por Dona Aíla na Pousada Sol e Mar, partir para a Trilha Ecológica com o Luís, guia local. No roteiro, a marcenaria da comunidade, que produziu catamarãs (detalhe: com orientação de um profissional maranhense!) e constrói jangadas e móveis para as famílias que residem na Reserva Extrativista. O entardecer se deu na Lagoa do Córrego do Sal. Paisagem de tirar o fôlego. A noite, um papo com os locais sobre a história da comunidade fechou o dia.
Experiências como a da Rede Tucum (que conta com o apoio do Instituto Terramar) e da comunidade da Prainha do Canto Verde demonstram que é possível conciliar o desenvolvimento das comunidades tradicionais e do turismo que não desagrega os valores sociais e não depredam o meio ambiente. Mais uma lição para o Maranhão. Como diz no endereço eletrônico da Rede Tucum, viva essa experiência!
Sou turismóloga e apaixonada pelo turismo comunitário. Visitei a prainha em 2009 e talvez volte lá esse ano. Ao longo longo dos meu trabalhos pretendo "vivenciar" outras comunidades que desenvolvem o turismo comunitário.
ResponderExcluirQue bom que pessoas de outras áreas também abracem essa ideia.
Gostei do seu blog! Grande abraço!