sábado, 14 de maio de 2011

FRECHAL: resistência e história


Em virtude das atividades laborais, visitei pela primeira vez à comunidade de Frechal (situada no município de Mirinzal), primeira área quilombola do Brasil com razoável segurança jurídica de seu território. A alternativa para garantí-lo aos descendentes de escravos foi criar uma Reserva Extrativista no ano de 1992, tendo em vista que, apesar do art. 68 do ADCT, não existia legislação infra-constitucional que dispusesse sobre o procedimento a ser adotado.

Pois bem. Por toda a luta da comunidade e o que isso significa para o Maranhão e o Brasil, é quase uma heresia eu pisar em Frechal pela primeira vez depois de quase 3 anos assessorando o Centro de Cultura Negra (CCN). A comunidade fica bem próxima ao centro urbano de Mirinzal/MA, a cerca de 2 horas do Porto de Cujupe (Alcântara/MA).


Chegamos - eu e a equipe do CCN-, por volta das 16:30hs. Próximo ao crepúsculo, ainda é possível ter uma visão geral do centro da comunidade. Igreja, escola, quadra esportiva, casa de farinha, salão de festas, antigo engenho e o casarão estão todos ali.

Era o momento ideal para tirar algumas fotos da diversão da criançada em frente à casa de farinha, que estava a pleno vapor. É claro que experimentei da típica farinha d'água maranhense, feita na hora, quentinha e bem torrada.


À noite, depois de degustar alguns peixes fritos com limão, sento na varanda da casa. Já passava das 20hs quando ouço algumas batidas de tambor vindas do antigo casarão-sede do antigo engenho (a comunidade prefere chamá-lo de sobrado). Um grupo ensaiava o toque do tambor de crioula. Em frente, a fumaça ainda exalava dos fornos da casa de farinha.

Dirijo-me ao sobrado. Uma leve chuva começa a cair. A chaminé e a roda do antigo engenho compõem o cenário, que a cerca de 200 anos representava a opressão, o sofrimento. Hoje, esses espaços são utilizados para manter viva as tradições e estória de resistência daquele povo.


Ao amanhecer do dia seguinte, uma leve e persistente chuva ainda teimava em lavar aquele solo. Com a luz do dia, vou mais uma vez ao sobrado. A rádio comunitária, as oficinas de artesanato, a secretaria e as reuniões da Associação de Moradores, a hospedagem a visitantes, acontecem naquele espaço. Das janelas do segundo piso é possível avistar o vasto campo de arroz cultivado. Boa parte da produção atende as demandas da comunidade e a outra é comercializada no município.

Lugar simples, de um silêncio quebrado apenas pelo revoar e pelo canto das jandaias. Como é bom sentir que ali o tempo passa devagar. Como é bom sentir ali a resistência e vitória de um povo guerreiro e lutador. Como é bom sentir ali o início de um Maranhão mais livre, justo e solidário.

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