O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos divulgou na última segunda feira (30 de abril), uma nota pública sobre o atual estado de violência instaurado no Maranhão. A nota, assinada pelo atual presidente do CEDDH, Jean Marie Van Damme lembra os recentes assassinatos ocorridos no Estado: Mauro Mariano Santana, Raimundo Alves Borges (Cabeça), Décio Sá, João de Jesus Lobato Santana e Maria Amélia Guajajara, requerendo o Conselho que haja "a apuração minuciosa de todos os crimes com o mesmo rigor e utilizando igual aparato".
Segue abaixo, na íntegra, a nota do CEDDH:
NOTA sobre a violência no Maranhão
Ainda não
nos restabelecemos de notícias de dois assassinatos ocorridos em nosso Estado
num espaço de poucos dias e já nos confrontamos com outras barbaridades: a
morte de Mauro Mariano Santana, que não era nenhuma liderança camponesa
incômoda aos interesses do latifúndio como era Raimundo Alves Borges (Cabeça),
nem um jornalista polêmico como Décio Sá. Era um simples carroceiro cortando o
capim para seu animal, morto por policiais. Poucas horas depois, é noticiado o
assassinato do policial João de Jesus Lobato Santana, vítima de assalto no
aterro do Bacanga e logo em seguida nos choca a violenta agressão à líder
indígena Maria Amélia Guajajara, que denunciava os crimes que estão ocorrendo
na sua região em Barra do Corda.
“Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à
segurança pessoal.” Assim está formulado o artigo 3º da Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Temos visto este artigo sendo desrespeitado
continuamente, mas de forma trágica e bárbara nos últimos dias, meses, anos.
Torna-se uma chaga crônica. Como Conselheiros incumbidos com a promoção da
defesa e do respeito aos Direitos Humanos, não podemos ficar simplesmente
assistindo estes fatos se multiplicando.
Há uma necessidade premente de
buscarmos as causas profundas de tal situação: estão na forma como as terras,
as riquezas naturais, as oportunidades em nosso Estado estão sendo apropriadas e
concentradas, deixando a massa de fora? As desigualdades crescentes formam uma
barreira para que uma “paz social” se instaure? É a cultura do “mais forte que
leva” a vantagem, a rivalidade, a concorrência, a falta de padrões éticos de
respeito ao outro? A falta de uma “cultura”, portanto, de convivência pacífica
com o diferente? Isso se aprende em escolas e num sistema educacional preparado
e através de meios de comunicação que não promovem a violência e vida
briguenta! Ou será que é a impunidade e a passividade de instâncias que devem
garantir a justa repressão e reeducação daqueles que violaram os direitos dos
outros? Haverá possivelmente outras causas, mas que devem em conjunto ser
enfrentadas. E isso implica a cooperação solidária de todas as instâncias que
foram instituídas para servir à sociedade.
Por isso, esperamos das
autoridades um compromisso com a população e suas necessidades cotidianas em
primeiro lugar, aquilo que se costuma chamar de “inclusão social”. São
necessárias medidas educativas que alterem o estresse social com valores
culturais diferentes daqueles que a mídia nos apresenta. Acabar com a violência
implica em políticas que proporcionem a equidade e o respeito à integralidade
da vida de todas e todos.
Mas, neste
momento, exigimos a apuração minuciosa de todos os crimes com o mesmo rigor e
utilizando igual aparato. Que sejam tomadas medidas preventivas para que outros
casos violentos não ocorram. Que sejam afastados policiais envolvidos em atos
violentos. E que após processos céleres aconteça uma exemplar punição dos que
comprovadamente abusaram de sua força e de seu poder.
São
Luís, 30 de abril de 2012
Jean Marie Van Damme
Presidente
do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Maranhão
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