Não sou jornalista. Sou advogado. Por isso, não esperem desse post uma lição de jornalismo objetivo, com uma razoável linha de raciocínio. Desde já faço a advertência: trata-se de um desabafo em virtude dos acontecimentos dos últimos dias.
O Maranhão, há cerca de um mês, vem ganhando destaque negativo no cenário nacional. Estou sendo otimista quanto a esse prazo. Na verdade, o Estado, desde muito tempo, tem visão negativa perante grande parte da sociedade brasileira. Com exceção da nossa cultura, da nossa culinária, do Guaraná Jesus e do nosso povo, vez sim, outra também, somos "agraciados" com reportagens e matérias que publicizam o estado de miséria e corrupção que assola nosso Estado.
Na última semana, para não variar, a estória tem se repetido. Segundo algumas personalidades chegaram a mencionar, a pistolagem teria retornado ao Maranhão. Como escrevi outro dia no Twitter, a pistolagem nunca deixou de existir entre nós. Ela apenas não atingia e não era percebida (ou talvez vendavam os olhos para isso) por aqueles que teimam em achar que o Maranhão se resume ao eixo Calhau-Renascença da Capital, São Luis. Dessa vez (ou melhor, mais uma vez), a pistolagem ocorreu na Avenida Litorânea, principal ponto de lazer dos ludovicenses desse eixo. Também foi por isso que, em voz uníssona e em alto e bom tom, a sociedade tanto clama por "mais segurança", investigação célere e punição eficaz?
Li em alguns blogs locais alguns maranhenses "indignados" com as palavras do jornalista Emílio Azevedo, sobre as mazelas que teimam em assolar o Estado. O que dizer se os números comprovam esse estado de miséria? Se somos campeões em conflitos agrários; vivenciamos um aumento significativo na violência nos últimos 10 anos; temos baixo índice educacional; rebeliões, torturas e mortes tem se tornado corriqueiras no sistema prisional; as lideranças rurais são reiteradamente ameaçadas, sem qualquer proteção estatal, porque não insistir na divulgação dessas mazelas a fim de pressionar o Estado a quitar um histórico débito de violações e promover os direitos de TODOS?
Moradores desse eixo que escrevem em blogs, afirmando que ficam "ofendidos com a imagem negativa do Estado" quando maranhenses, que tem amor ao Estado, fazem as críticas necessárias, denunciando a pistolagem que a anos executa trabalhadores rurais, advogados, moradores em situação de rua. Maranhenses que, assim como eu, sabem que o Maranhão está mais além do que o Estreito dos Mosquitos. O Maranhão, esse sim, formado de gente trabalhadora, camponeses, indígenas, quilombolas, taxados de "preguiçosos". "Esse povo não quer trabalhar! Tanta terra aí, e querem ficar pedindo esmolas na estrada, com casas cobertas de palha!", chegam a brabar, vorazmente, alguns defensores da irrestrita liberdade de imprensa. Eu pergunto: onde estão as terras agricultáveis para que essas pessoas para trabalhar e retirar seu sustento, se boa parte delas está tomada pelo latifúndios de gado, de soja, de eucalipto, tomadas pelas grandes empresas de mineração, de petróleo e gás, sendo inundadas por grandes hidrelétricas?
Para mim, é triste chegar a outro Estado da Federação, a outra grande cidade do país e ser questionado, ao informar que sou maranhense: "Ah, a terra do Sarney?", "Você é parente do Sarney?", "É verdade que todo mundo lá tem um emprego dado pelo Sarney?". Por essas e outras, acham que vivemos numa República (?) à parte, sempre comandada por um ex-presidente.
É evidente que o crime cometido contra o jornalista Décio Sá foi praticado a mando de alguém. É pistolagem pura. Mas, assim como o mais recente episódio, tantos outros homicídios com as mesmas características foram cometidos no Estado, sem qualquer tipo de "força-tarefa" ou investigação por parte do Estado. Das investigações que foram instauradas, muitas ainda se arrastam, sem qualquer indiciamento ou reponsabilização dos responsáveis por essas atrocidades. Digo e repito: a execução do Décio Sá precisa ser esclarecida e os responsáveis precisam ser exemplarmente punidos, conforme a lei. Contudo, o sistema de segurança do Estado deveria utilizar os mesmos mecanismos de inteligência para investigar outras execuções cometidas contra José's, Antonio's e Maria's. Não foi uma, duas ou três vezes que esse (e outros ) blog vem denunciando as sistemáticas práticas de violência e desrespeito contra maranhenses trabalhadores, anônimos, mas que fazem o trabalho suado que sustenta muita gente da Capital.
Como dito certa vez por um jurista maranhense, nosso Estado não é omisso. Ele é SELETIVO. Os gestores públicos escolhem aquilo que querem investigar, quem querer punir, aonde precisam investir. O orçamento de 2012 para o Maranhão deixa isso bastante evidente. O mais recente episódio também.
Deixemos de ser hipócritas! Vivemos em um Estado rico, com uma diversidade sócio-cultural que talvez nós não encontremos em outro lugar do país (sim, sou um pouco bairrista). Mas não dá para tapar o sol com a peneira. O Maranhão é muito maior do que São Luis! O Maranhão é muito maior do que o Calhau e a Litorânea!
Ufa!
É isso aí;nem mais,nem menos.
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