segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Breve análise sobre o processo eleitoral de 2012



A partir dos números totais consolidados pelo TSE, é possível afirmar quem foi o partido vencedor das eleições?  Mais do que nunca, a grandeza do território nacional, a diversidade cultural e o sistema político e eleitoral do país merecem ser considerados para que se responda a esse questionamento.

É claro que cada partido vai puxar a sardinha para sua brasa. O PT vai dizer que aumentou o número de prefeituras e foi o partido mais votado. O PMDB afirmará que é a agremiação política que continua com a liderança absoluta de prefeituras. O PSDB dirá que continua fortalecido nos principais colégios eleitorais do país (SP e MG). Traço algumas análises a partir dos cenários apresentados para três partidos: PSOL, PT e DEM.

PSOL
Parece claro que o PSOL cresce em um ritmo muito mais acelerado do que o PT, em seu início. Já conquistou sua primeira prefeitura (no Estado do Rio de Janeiro) e parte para a disputa de segundo turno em duas capitais: Belém e Macapá, com boas chances de ganhar nestas duas cidades.

Na cidade do Rio de Janeiro, apesar da aparente derrota no 1 turno, o partido também sai fortalecido. Elegeu 4 vereadores, e seu candidato a prefeito, Marcelo Freixo, obteve cerca de 30% dos votos válidos. Sua campanha foi abraçada por importantes setores do meio artístico, e é possível que tal fato tenha contribuído para que ele batesse o recorde de arrecadação na internet (superando até mesmo a campanha da Presidenta Dilma, em 2010). Freixo poderá desequilibrar (ou equilibrar) a balança nas eleições de 2014, na sucessão do Governador Sérgio Cabral.

No Maranhão o cenário é bem diferente. Após um processo conturbado (inclusive com interferência do diretório nacional e debandada de vários filiados que ajudaram a fundar o partido no Estado), a candidatura do ex-deputado Haroldo Sabóia prometia alavancar o crescimento do partido em São Luís. Ficou na promessa.

Haroldo Sabóia teve apenas 0,8% dos votos válidos da capital maranhense, ficando atrás do (conhecido) Marcos Silva, do PSTU (este obteve 2,15% dos votos válidos). Apesar de possuir bons nomes em seu quadro, o PSOL não conseguiu eleger um vereador para a Câmara Ludovicense, o que não é bom, pois o partido tem mostrado relevantes serviços e levantados importantes debates no Legislativo.

PT
Bom, sobre o Partido dos Trabalhadores o que se tem a apontar como mais relevante é a possível influência do julgamento do Mensalão nas eleições ocorridas no dia 07, e, pelo resultado, o julgamento que está sendo realizado pelo STF não parece ter influenciado o eleitor do partido.

Dois fatos corroboram isso: o Partido foi o mais votado em todo país: cerca de 17 milhões de votos. Isso representa 3 milhões a mais do que o PMDB, partido que ficou com mais de 1.000 prefeituras em todo o país (o dobro do PT). Esse é um dado relevante para 2014.

Outro fato do não impacto do Mensalão nas eleições foi o caso da disputa para a prefeitura de Osasco/SP. João Paulo Cunha, condenado pelo STF, viu-se obrigado a desistir de sua candidatura e indicar Jorge Lapas. Para os candidatos adversários, de nada adiantou: o petista foi eleito no primeiro turno, com mais de 60% dos votos válidos.

No Maranhão, depois da direção estadual construir aliança com o grupo Sarney, o Partido parece segue decrescendo. Mesmo com um terço do tempo de TV dedicado a seu candidato, a toda exposição midiática dos programas sociais, das sistemáticas intervenções do ex-presidente Lula  no rádio e na TV, mesmo com todo o apoio do Governo do Estado, o candidato Washington obteve desempenho abaixo do esperado. Ficou em 4 lugar, atrás da surpreendente (para alguns) votação da candidata Eliziane Gama, do PPS.

O grupo Sarney deve ter imaginado que haveria transferência direta de votos dados à Roseana Sarney, em 2010, para Washington. Some-se a isso a constante presença do Lula na TV, pedindo votos ao candidato. Ficou apenas na imaginação.

A pergunta para o PT estadual agora é: depois das pífias participações nas eleições deste ano, principalmente na Capital, com grandes chances de definhar, o Partido deverá persistir no apoio incondicional do grupo Sarney? 

DEM
O Democratas (DEM) passou por um processo de "renovação" e "modernização" que ficou apenas no nome (o DEM é o antigo PFL).

O Partido continua com as mesmas práticas conservadoras que sempre o orientaram. O DEM tem fortalecido seu papel de Direita no espectro ideológico do cenário político nacional, e creio que reside aí o motivo de seu recrudescimento, haja vista a configuração social do país pós 2002.

O partido conseguiu apenas uma prefeitura de capital - Aracaju, mas disputa o segundo turno em Salvador, com o deputado ACM Neto. Coincidência ou não, o DEM ainda parece disputar espaço no Nordeste, região do país onde o coronelismo foi (e continua) mais forte.

Fora dos rincões nordestinos, o DEM perde força em locais onde possuía figuras políticas forte. Mais uma vez o Rio de Janeiro é exemplar. O candidato a prefeito pelo partido, Dep Rodrigo Maia, teve apenas 2% das intenções de voto. Em sentido contrário, seu pai, o ex-prefeito César Maia elegeu-se vereador, com uma das votações mais expressivas. O que explicaria esse fenômeno aparentemente contraditório?

No cenário nacional, o DEM teve uma queda de 44% no número de prefeituras, em relação a 2008. Sinal claro dessa nova (mas ainda confusa) configuração política nacional.

Trago apenas algumas reflexões. Pelas características do país (e também por seu sistema político), as análises de "vencedores" e "perdedores" em âmbito nacional devem ser tomadas com cautela.

A meu sentir, o sistema político nacional ainda tem que amadurecer para podermos afirmar, com maior segurança, se há mesmo uma tendência de consolidação da centro-esquerda no país. Exemplo disso é o caso de algumas capitais do Norte e do Nordeste, que elegeram políticos de centro-direita e da direita, mas são as regiões onde a centro-esquerda teve mais votos em 2010. Aracaju é emblemática nesse sentido. Elegeu um prefeito do DEM, mas, ao mesmo tempo, a candidata do PSTU obteve mais de 6% dos votos válidos. 

Eleições municipais. Esse Bicho de Sete Cabeças

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