A partir dos números totais consolidados pelo TSE, é possível afirmar
quem foi o partido vencedor das eleições?
Mais do que nunca, a grandeza do território nacional, a diversidade
cultural e o sistema político e eleitoral do país merecem ser considerados para
que se responda a esse questionamento.
É claro que cada partido vai puxar a sardinha para sua brasa. O PT vai
dizer que aumentou o número de prefeituras e foi o partido mais votado. O PMDB
afirmará que é a agremiação política que continua com a liderança absoluta de
prefeituras. O PSDB dirá que continua fortalecido nos principais colégios
eleitorais do país (SP e MG). Traço algumas análises a partir dos cenários
apresentados para três partidos: PSOL, PT e DEM.
PSOL
Parece claro que o PSOL cresce em um ritmo muito mais acelerado do que o
PT, em seu início. Já conquistou sua primeira prefeitura (no Estado do Rio de
Janeiro) e parte para a disputa de segundo turno em duas capitais: Belém e
Macapá, com boas chances de ganhar nestas duas cidades.
Na cidade do Rio de Janeiro, apesar da aparente derrota no 1 turno, o
partido também sai fortalecido. Elegeu 4 vereadores, e seu candidato a
prefeito, Marcelo Freixo, obteve cerca de 30% dos votos válidos. Sua campanha
foi abraçada por importantes setores do meio artístico, e é possível que tal
fato tenha contribuído para que ele batesse o recorde de arrecadação na internet (superando até mesmo a campanha
da Presidenta Dilma, em 2010). Freixo poderá desequilibrar (ou equilibrar) a
balança nas eleições de 2014, na sucessão do Governador Sérgio Cabral.
No Maranhão o cenário é bem diferente. Após um processo conturbado
(inclusive com interferência do diretório nacional e debandada de vários
filiados que ajudaram a fundar o partido no Estado), a candidatura do
ex-deputado Haroldo Sabóia prometia alavancar o crescimento do partido em São
Luís. Ficou na promessa.
Haroldo Sabóia teve apenas 0,8% dos votos válidos da capital maranhense,
ficando atrás do (conhecido) Marcos Silva, do PSTU (este obteve 2,15% dos votos
válidos). Apesar de possuir bons nomes em seu quadro, o PSOL não conseguiu
eleger um vereador para a Câmara Ludovicense, o que não é bom, pois o partido
tem mostrado relevantes serviços e levantados importantes debates no
Legislativo.
PT
Bom, sobre o Partido dos Trabalhadores o que se tem a apontar como mais
relevante é a possível influência do julgamento do Mensalão nas eleições
ocorridas no dia 07, e, pelo resultado, o julgamento que está sendo realizado
pelo STF não parece ter influenciado o eleitor do partido.
Dois fatos corroboram isso: o Partido foi o mais votado em todo país:
cerca de 17 milhões de votos. Isso representa 3 milhões a mais do que o PMDB,
partido que ficou com mais de 1.000 prefeituras em todo o país (o dobro do PT).
Esse é um dado relevante para 2014.
Outro fato do não impacto do Mensalão nas eleições foi o caso da disputa
para a prefeitura de Osasco/SP. João Paulo Cunha, condenado pelo STF, viu-se
obrigado a desistir de sua candidatura e indicar Jorge Lapas. Para os
candidatos adversários, de nada adiantou: o petista foi eleito no primeiro
turno, com mais de 60% dos votos válidos.
No Maranhão, depois da direção estadual construir aliança com o grupo
Sarney, o Partido parece segue decrescendo. Mesmo com um terço do tempo de TV
dedicado a seu candidato, a toda exposição midiática dos programas sociais, das
sistemáticas intervenções do ex-presidente Lula
no rádio e na TV, mesmo com todo o apoio do Governo do Estado, o
candidato Washington obteve desempenho abaixo do esperado. Ficou em 4 lugar,
atrás da surpreendente (para alguns) votação da candidata Eliziane Gama, do
PPS.
O grupo Sarney deve ter imaginado que haveria transferência direta de
votos dados à Roseana Sarney, em 2010, para Washington. Some-se a isso a
constante presença do Lula na TV, pedindo votos ao candidato. Ficou apenas na
imaginação.
A pergunta para o PT estadual agora é: depois das pífias participações
nas eleições deste ano, principalmente na Capital, com grandes chances de
definhar, o Partido deverá persistir no apoio incondicional do grupo
Sarney?
DEM
O Democratas (DEM) passou por um processo de "renovação" e
"modernização" que ficou apenas no nome (o DEM é o antigo PFL).
O Partido continua com as mesmas práticas conservadoras que sempre o
orientaram. O DEM tem fortalecido seu papel de Direita no espectro ideológico
do cenário político nacional, e creio que reside aí o motivo de seu
recrudescimento, haja vista a configuração social do país pós 2002.
O partido conseguiu apenas uma prefeitura de capital - Aracaju, mas
disputa o segundo turno em Salvador, com o deputado ACM Neto. Coincidência ou
não, o DEM ainda parece disputar espaço no Nordeste, região do país onde o
coronelismo foi (e continua) mais forte.
Fora dos rincões nordestinos, o DEM perde força em locais onde possuía
figuras políticas forte. Mais uma vez o Rio de Janeiro é exemplar. O candidato
a prefeito pelo partido, Dep Rodrigo Maia, teve apenas 2% das intenções de
voto. Em sentido contrário, seu pai, o ex-prefeito César Maia elegeu-se vereador,
com uma das votações mais expressivas. O que explicaria esse fenômeno
aparentemente contraditório?
No cenário nacional, o DEM teve uma queda de 44% no número de
prefeituras, em relação a 2008. Sinal claro dessa nova (mas ainda confusa)
configuração política nacional.
Trago apenas algumas reflexões. Pelas características do país (e também
por seu sistema político), as análises de "vencedores" e
"perdedores" em âmbito nacional devem ser tomadas com cautela.
A meu sentir, o sistema político nacional ainda tem que amadurecer para
podermos afirmar, com maior segurança, se há mesmo uma tendência de
consolidação da centro-esquerda no país. Exemplo disso é o caso de algumas
capitais do Norte e do Nordeste, que elegeram políticos de centro-direita e da
direita, mas são as regiões onde a centro-esquerda teve mais votos em 2010.
Aracaju é emblemática nesse sentido. Elegeu um prefeito do DEM, mas, ao mesmo
tempo, a candidata do PSTU obteve mais de 6% dos votos válidos.
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