sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Leílson e a esperança de um ano novo

Mais um ano começa com a renovação de votos de um mundo melhor, de que nas nossas vidas sempre sopre o vento da esperança, de uma vida mais digna. Essa também é a esperança de Leílson.

04 de janeiro de 2013, às 12:15hs. Chegava em casa quando fui abordado no portão por Leílson. Vive em situação de rua há alguns anos, e algumas vezes bate à minha porta pedindo comida e água (sempre atendido).

Leílson, até então, nunca tinha feito pedido de dinheiro. Hoje foi diferente. "Irmão, sempre peço comida aqui pro senhor, e o senhor sempre me dá, mas dessa vez queria lhe pedir um dinheiro pra eu voltar pra casa."

Perguntei onde morava. Respondeu que queria voltar pra casa da mãe, em Rosário (município distante 70km de São Luís). Não aguentava mais a vida aqui na Capital. Queria "dar um tempo" de dormir em cima de papelão, na rua.

Leílson andava com uma sacola cheia de fios e cabos. "Irmão, é cobre. Aqui tem um monte de fio, mas quando derrete, não dá nadinha. Vou levar pra lá".

Toda vez que falava da mãe e da situação na rua, sua voz embargava. Seus olhos enchiam de lágrimas e ficavam vermelhos. Dizia que estava sendo sincero comigo. Queria o dinheiro para comprar a passagem da van e voltar pra Rosário. 

Pedi então que ele fosse sincero comigo e respondesse se estava envolvido com algum tipo de droga. "Irmão, vou ser sincero. Meu problema é a bebida". Perguntei sobre o crack. "Não irmão, não uso isso não. Olha aqui pra mim. Se tivesse usando esse negócio aí eu estaria assim limpinho, com essas roupas aqui?", retrucou. De fato, apesar de estar magro, Leílson aparentava estar com boa saúde, sem feridas no corpo, roupas conservadas.

Leílson então pediu água. Estava com R$ 3, dado por uma vizinha da rua. Entrei em casa, peguei uma garrafa de água e dei pra ele, junto com o dinheiro que restava para completar a passagem da van. Não esboçou alegria. Pareceu surpreso. Disse que só poderia ajudar com isso e que confiava no que ele estava falando pra mim. "Irmão, já tá bom demais", respondeu cabisbaixo. Perguntei quando iria para Rosário. "Ainda hoje!"

Pegou sua sacola com fios e cabos e saiu andando.

2013 começou e acredito que a esperança de uma vida melhor para Leílson também. 

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