quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Um Kennedy e o debate sobre Desenvolvimento Justo

Finalizei a leitura da obra "JUSTIÇA - O que é fazer a coisa certa", do filósofo americano Michael J. Sandel. Um livro que traz importantes discussões filosóficas (e jurídicas) sobre as principais questões da atualidade, em uma linguagem simples, objetiva, compreensível e cativante, de leitura fácil e prazeirosa.

Dentre as várias passagens interessantes (uma delas postei no Twitter, quando o M. Sandel utiliza uma passagem do desenho animado ´Ursinho Puff´para explicar o raciocínio teleológico de Aristóteles), o filósofo, dissertando sobre a política e bem comum, traz um discurso do então candidato à indicação pelo Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy.

Segundo Sandel, Robert Kennedy entendia justiça para além do tamanho e distribuição do PIB, abordando propósitos morais mais relevantes. Em 18 de março de 1968, em discurso histórico na Universidade do Kansas, Robert Kennedy deixou claro que os americanos estavam valorizando "as coisas erradas":

"Nosso Produto Interno Bruto agora ultrapassa 800 bilhões de dólares por ano. Mas nesse PIB estão embutidas a poluição do ar, os comerciais de cigarro e as ambulâncias para limpar nossas carnificinas. Ele inclui fechaduras especiais para as nossas portas e prisões para as pessoas que as arrombam. Inclui a destruição de nossas sequoias e a perda de nossas maravilhas naturais em acumulações caóticas de lucro. Inclui as bombas napalm e as ogivas nucleares e os veículos blindados de polícia para combater os tumultos em nossas cidades. Inclui (...) os programas de televisão que estimulam a violência com a finalidade de vender brinquedos para as nossas crianças. Entretanto, o PIB não garante a saúde de nossas crianças, a qualidade de sua educação ou a alegria de suas brincadeiras. Não inclui a beleza de nossa poesia ou a solidez de nossos casamentos, a inteligência de nossos debates públicos ou a integridade de nosso governo. Ele não mensura nosso talento ou nossa coragem, nossa sabedoria ou nosso aprendizado, nossa compaixão ou nossa devoção a nosso país. Ele tem a ver com tudo, em suma, exceto com aquilo que faz com que a vida valha a pena. E ele pode nos dizer tudo sobre os Estados Unidos, exceto o motivo pelo qual temos orgulho de ser americanos."

Menos de três meses depois desse discurso, Robert Kennedy foi assassinado. 44 anos depois, o discurso de R. Kennedy continua atualíssimo. 

Importante a crítica que R. Kennedy faz, ainda em 1968, ao modelo de desenvolvimento que só gera acumulação de riqueza. Modelo de desenvolvimento baseado no consumismo desenfreado, que faz com que comemoremos que uma família tenha dois ou três automóveis, que possamos colocar nossas filhos nas melhores universidades privadas do país, que nos vangloriemos e tenhamos orgulho que nossas empresas tenham "respeito" em âmbito internacional. 

No Brasil, chegamos ao final de 2012 sendo a sétima economia mundial, mas amargando péssimos resultados em índices de desenvolvimento humano, na qualidade da educação, da saúde, da moradia, de combate à tortura, etc. Tudo isso fruto de uma política de Estado (de Estado, não de Governos) que privilegia o capital em detrimento das pessoas e faz com que a sociedade pense (e aja) desta forma.

O que esperar de 2013 e de anos vindouros? Uma nova concepção de desenvolvimento que, para além do aspecto econômico, inclua também o Índice de Felicidade? Na atual conjuntura nacional e internacional, haverá espaço para uma completa mudança de paradigma? Não sendo agora, por quanto tempo aguardaremos a chegada desse modelo? Aguardaremos ou nós, sociedade civil, faremos com que ele aconteça?

Uma vez mais estamos em um período de reflexão. O espaço deste blog serve, ao longo do ano, para que possamos refletir sobre tais questões e não poderia ser diferente ao final de 2012. Que ao longo do próximo ano, possamos continuar o diálogo (e realizar) ações na busca de uma sociedade que valorize que o que o correto: valorizar o ser humano.


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