sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Os outros quinhentos da VALE

"Reproduzido do Blog do Ed Wilson - blogdoedwilson.blogspot.com"


Quem acompanha o noticiário da produzido no Maranhão deve ter ficado surpreendido com um furioso ataque dos blogues do Sistema Mirante de Comunicação à Vale (ex-Vale do Rio Doce). Veja no final dessa postagem uma lista de links com matérias sobre o tema.

A Vale sempre teve boas relações com os governos Sarney no Maranhão. Agora, a mineradora está sob fogo cerrado no portal Imirante. Motivo: a empresa teria cometido irregularidades que levaram várias empresas maranhenses à “quebradeira”.

Depura-se do noticiário que os negócios com a Vale começaram a gerar estragos da mina, em Parauapebas, ao porto do Itaqui, em São Luís, mexendo com interesses poderosos no Maranhão.

É relevante a iniciativa de denunciar a Vela nesse episódio. As informações expostas pelos blogues do Imirante acenderam uma grande fogueira. Melhor seria se aproveitássemos a oportunidade para fazer um debate mais profundo sobre a atuação da Vale no Pará e no Maranhão.

Desde a implantação, nos anos 1980, a Vale vem gerando problemas ambientais, econômicos e sociais graves. Deixou ao longo dos anos um rastro de destruição e miséria no Corredor Carajás, denunciados em artigos, revistas, livros, vídeos etc.

Tudo isso pode ser observado no site da campanha Justiça nos Trilhos (http://www.justicanostrilhos.org/), composta por várias organizações da sociedade civil atentas aos problemas causados pela mineradora e tentando soluções para amenizá-los.

Assistir ao vídeo “Não Vale” dá uma versão interessante sobre a mineradora, muito diferente dos informes publicitários veiculados na mídia. Recomenda-se também umas viagens no trem da Vale para ver de perto os impactos da mineração predatória no eixo Pará-Maranhão.

As raízes mais profundas para um debate sobre a Vale podem chegar ao arremedo de desenvolvimento do Maranhão imposto nos últimos 40 anos, baseado no latifúndio e na atração de enclaves econômicos como a Vale e a Alumar, nos anos 1980, e recentemente o espetáculo pirotécnico anunciando a aterrissagem da Suzano para produzir celulose na região tocantina.

O Maranhão não produz um pé de tomate, não beneficia o caju, não faz benfeitoria nos pescados e mariscos, não produz sal nem frutas para exportação. A bacia hidrográfica do rio Itapecuru banha 40 cidades, mas não se vê uma cultura irrigada nesse mar de água.

Não fosse o esforço da agricultura familiar viveríamos como uma Manaus em pleno Nordeste: tudo teria de ser importado.

No Maranhão, quando existe projeto de irrigação, a exemplo do Salangô, os dutos só serviram para abastecer as contas bancárias dos interessados. Irrigaram a corrupção.

Esse exemplo da agricultura é um pequeno recorte sobre a economia do Maranhão. Não há plano de desenvolvimento. Nunca houve. Aqui é um eldorado exótico, típico do capitalismo mais selvagem, onde as crianças, ao invés de estarem nas escolas, trabalham e mutilam-se nas carvoarias que abastecem as siderúrgicas da Vale.

A visão míope e interesseira de desenvolvimento festeja a Vale, a Alumar e a Suzano com o mesmo foguetório que anuncia a construção de shopping(s) center(s) em São Luís, onde não tem nem praças decentes, nem parques ambientais, nem calçadas e ruas e avenidas pavimentadas.

O Maranhão inteiro vive um faroeste.

A Vale ficou pior depois da privatização criminosa do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Na lógica cega e onipotente do mercado, ela sobe no ranking entre as maiores mineradoras do mundo.

Esse gigante assusta e afasta a fiscalização da DRT, no Ministério do Meio Ambiente e o Ministério Público do Trabalho. A força da Vale silencia também o debate público nas casas legislativas.

Salvo raras exceções, qual deputado ou vereador toca no assunto?

Ninguém é tolo para menosprezar a importância do minério nas relações comerciais do Brasil com o mercado asiático.

Mas não é possível ainda suportar todo tipo de desatino cometido pela Vale. Da poluição sonora aos acidentes e mortes de trabalhadores na mina, passando pela ferrovia até chegar ao porto, há um vale de lamentações ao longo dos trilhos.

Quem olha o por do sol da Vale praça Gonçalves Dias, um dos mais belos espetáculos de São Luís, não imagina que a única praça conservada de nossa cidade foi reformada pela Vale.

Sabe por quê? A mineradora teve de recuperar o logradouro para cumprir um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), por conta de um desastre ambiental provocado no Gapara, na zona rural de São Luís.




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